quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Coluna de Marcelo Dourado: MMA & Torcida

Vi um dia antes ao tão sonhado evento, a entrevista coletiva de alguns de nossos ídolos, lá onde seria realizado as lutas. Nossos atletas eram questionados por pessoas da platéia, alguns lutadores, amantes do esporte, jornalistas, público em geral... Mas de maneira informal. A galera perguntando de cerveja na mão e clima de amizade. No meio de varias perguntas sobre prognósticos e resultados, um cara fez uma pergunta que eu, se tivesse a oportunidade, faria: "Como fazer a torcida se comportar de maneira educada, pois tratava de um evento, mas de artes marciais?"

As respostas que ouvi de nossos campeões, me pareceram, desculpe a opinião de fugir do foco. Pareceu-me que eles responderam sobre torcidas e brigas na rua (nosso campeão Royce Gracie falou que nunca brigou, José Aldo, que veio do futebol, falou que entrava em conflito constantemente nos jogos e parou após entrar no Jiu-Jitsu). Legal, mas não era essa a pergunta. Na minha opinião, a resposta ainda não foi debatida, pelo menos como eu gostaria, então vamos lá. Pelo que eu entendi, o torcedor se referia à educação mesmo e não briga de torcida. Nossos lutadores responderam bem, mas não tocaram na ferida, e que no meu ver, teve ponto negativo e que passou batido pela maioria.

Sou praticante de Judô desde criança, competidor, tentei seleção, foi minha base. Meu Sensei, jamais deixou eu reclamar de juiz, dizendo que havia sido roubado. Se não desse um Ippon, que eu desse jeito de dar outro. Nos campeonatos da Federação Gaúcha, ao menor sinal de vaia o evento era interrompido, seguido de lição de moral. Kiai (grito de energia), apenas na hora da técnica, nada de grito de gol ou a encrenca vinha na beira do shiai-jo, na forma do próprio professor manifestando insatisfação. Fui criado assim, no estilo oriental. Perdeu, ganhou, vai lá... Cumprimenta e agradece o embate. Pratico e acompanho o MMA ou antigo Vale Tudo desde que sou criança. Lutei os primeiros MECA e acompanhei os UFC’s , K1 e Pride desde o inicio de suas criações. E posso garantir, JAMAIS Wanderlei Silva, Anderson, Francisco Filho ou Minotauro foram vaiados pelos nossos amigos da terra do sol nascente. Quem acompanha esses eventos, assistia a um evento de publico exigente e conhecedor do esporte, que aplaudia muito e incentivava seus atletas, mas jamais depreciavam seus adversários. Mesmo quando nossos guerreiros se enfrentavam com ídolos locais, como Sakuraba, Maeda ou Musashi. Vou além: nossos lutadores tinham mais reconhecimento lá do que aqui, na maioria das vezes. Uma vez vi o Wand na janela do hotel no Japão, tinha um mar de gente esperando aceno dele... Veio aqui na paulista, o Pânico perguntava quem era ele e a galera: "jogador de futebol?"

Por isso mesmo, por um lado fiquei feliz de não ter ido à arena aquele dia, preferindo ver em casa na companhia de amigos. "Hi, roubaram o boné do Minota!" Falou um amigo meu... Falei pro japonês tomarem cuidado pelo Twitter, mas acabaram roubando o Anderson! Caramba, levaram de "souvenir" a quepe do campeão. Pode...? Maneiro...? E os copos de urina, jogados nos lutadores estrangeiros? Lembra alguma coisa nos estádios? E tome vaia pros atletas rivais. E dê-lhe chamar o juiz de ladrão. Torcedor em estádio de futebol, extravasa energia. Ao chamar o juiz de filho da puta, tá xingando o chefe dele. Quando diz que o jogo ta uma merda, ta se referindo na real vida dele mesmo.

Arte marcial é diferente. Os atletas, senhores e senhoras, geralmente têm uma historia de superação fantástica, família, filhos e mulher. Tomam muito mais porrada nos treinos do que no dia do show. Treinam quebrados, com dor, e no caso dos brasileiros, às vezes sem dinheiro, comida ou lugar descente pra morar. Na maioria das situações, fogem da pobreza e da violência pelo esporte, sonham um dia lutar na gringa. Ganham entre 500 e 2000 Reais em media em eventos pelo Brasil, pra divertir aristocrata sedento de sangue. Merecem respeito, brasileiros ou estrangeiros. Nós, praticantes, saudamos nossos adversários ao final da luta, e compreendemos a dificuldade e a crueldade da nossa vida em cima do tatame, ringue ou cage. Devemos educar e dar o exemplo de bom comportamento, dentro e fora dos ringues.

Luta Não é FUTEBOL, e por isso mesmo devemos separar as coisas (não estou falando de vestir a camiseta e representar um clube de futebol, acho isso ótimo) pode torcer, usar camiseta, mas as atitudes devem mudar. Isso vai refletir em apoio, patrocínio, credibilidade, notoriedade, simpatia do publico. Pessoas ligadas à mídia marrom, formadores de "pitacos" desinformados e preconceituosos, não sabem diferenciar o joio do trigo e a galera da onda vai atrás. Acham que MMA é briga de gangue, de torcida organizada, violência, briga de rua, lugar de má índole... Não sabem que quem luta, não briga. Que professor decente preza pelo respeito e crescimento do esporte. Que gangue da imprensa marrom, que nossos atletas nos dão mais orgulho que a seleção brasileira de futebol... Que o esporte que mais cresce no mundo, e que vaias não são bem vindas. Podemos aproveitar esse momento para darmos nossa contribuição em alguma mudança positiva. Lutadores sabem na própria carne o valor da honra, da humildade, da amizade e da compaixão. Que as lutas mais importantes travadas, continuem sendo as com nossos próprios demônios, que habitam nossos corações. Paz sempre. luta, somente dentro do cage e enquanto o arbitro não encerrar... Depois, paz de novo!

Ou nada que meu Sensei me ensinou tem sentido...? Da próxima vez, pense antes de vaiar.

Abrx #tamojunto

Por Marcelo Dourado, blog Total Jiujitsu

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